Com potência e com afeto, Serena Williams mostra por que é a maior

DANIEL E. DE CASTRO

Entre o primeiro título de Grand Slam de Serena Williams, no Aberto dos EUA-1999, e o 23º, neste sábado (28), no Aberto da Austrália, muita coisa aconteceu no tênis.

Como explicar que alguém que conquistou quatro Slams seguidos de 2002 a 2003 e de 2014 a 2015 ainda hoje seja a jogadora mais dominante do circuito?

A potência nos golpes, o estilo agressivo, um saque que fez e faz a diferença: tudo isso ajuda a entender por que ela tornou-se a maior vencedora de torneios desse porte na era aberta —deixou Steffi Graf, com 22 títulos, para trás. A recordista de todos os tempos é Margaret Court, que levantou 24 troféus.

Além de uma combinação exemplar de atributos físicos e técnicos para o esporte, Serena mostra que ainda tem apetite para colecionar marcas: bateu o próprio recorde de campeã mais velha de um Slam e voltará a ser número um do mundo aos 35 anos.

No atual top 100 do ranking feminino, apenas Venus Williams e Francesca Schiavone, ambas com 36, são mais velhas que ela.

Para retornar ao topo, Serena derrotou a irmã, dona de sete títulos e que voltava a decidir um Slam após quase oito anos, em um jogo tenso —com direito a quebra de raquete da campeã logo no início— e que teve 48 erros não forçados. Em um embate entre dois estilos de jogo parecidos, prevaleceu a consistência da irmã mais nova para fechar em um duplo 6/4.

Além dos ataques constantes, o abraço fraterno após o último ponto e os emotivos discursos das duas eram partes esperadas da decisão. “Sua vitória sempre foi minha vitória, eu acho que você sabe disso”, afirmou Venus. “Ela é a única razão pela qual estou aqui hoje e a razão de as irmãs Williams existirem”, disse Serena.

Declarações afetuosas em cerimônias têm sido uma constante da multicampeã. Ano passado, quando perdeu a final para Angelique Kerber em Melbourne, também direcionou belas palavras à alemã.

Excepcional em quadra e cada vez mais importante fora dela, com a defesa pela igualdade de gênero no esporte, Serena mostra que está muito viva após um segundo semestre de 2016 abaixo da média. Por que não pensar que ela finalmente pode conquistar os quatro troféus no mesmo ano? Recomendo não duvidar.

Serena e Venus Williams se abraçam após a final (Edgar Su/Reuters)
Serena e Venus Williams se abraçam após a final (Edgar Su/Reuters)