Extenuante, Roland Garros põe preparo físico dos tenistas à prova
Ah, Roland Garros. O charmoso Grand Slam francês dá a partida em suas chaves principais neste domingo (28). Por trás do glamour, porém, há muita preparação para encarar o desgaste dos por vezes longos jogos no saibro.
O preparador físico brasileiro Cassiano Costa, que atualmente viaja o circuito na comissão técnica da tenista canadense Eugenie Bouchard, afirma que o Grand Slam francês é o mais desafiador dos quatro.
“No saibro o cara tem que jogar tênis”, resume. Em conversa com o blog, Costa fala sobre as razões de o piso provocar um desgaste maior nos atletas, opina acerca da desistência de Roger Federer e comenta a longevidade na elite do esporte. Após o aniversário de Novak Djokovic, nesta semana, os cinco primeiros do ranking são tenistas com mais de 30 anos.
Dificuldades de jogar no saibro
Primeiro, você tem a tendência de os pontos serem mais longos. Pelas últimas informações que tivemos, o ponto na quadra rápida dura em média de três a quatro segundos. No saibro, isso vai a mais de oito segundos. Parece rápido, mas, na verdade, o tenista vai fazer três ou quatro ações por ponto. Se você multiplica isso por game ou por set, é um estresse mecânico. A segunda coisa é o deslizar. Muita gente desliza na quadra dura também, mas, se o saibro está pesado, exige bastante dos músculos internos da coxa e dos músculos abdominais.
Terceiro, numa quadra dura e na grama, o cara que tem um bom saque põe dois ou três bons serviços e o game está feito. No saibro, a forma como a bola quica, mesmo com a velocidade que ela vem, exige que o atleta faça um maior número de movimentos totais por ação. Em geral, o cara saca, depois já tem que agir novamente, e vai ter mais uma bola. Pessoal acaba jogando com um pouco mais de spin, que usa mais dos braços. Por último, até uma questão pessoal que eu venho trazendo: no saibro o cara tem que jogar tênis. No saibro, não tem muito espaço para o cara falhar na técnica, se garantir no serviço. Tem que ser bom na base, correr para rede, tem que ser bom nos dois golpes.
Comparação com outros Slams
Austrália é um calor infernal normalmente, o primeiro do ano, não é todo mundo que está 100%. Mas até a forma como os jogadores encaram, eles falam que é o Grand Slam legal, pessoal parece que vai mais relaxado jogar. Wimbledon é na grama, os jogos são rápidos. U.S Open também é um pouco bruto, mas, especialmente quem serve bem, dependendo de quem pega na chave nas primeiras rodadas, se safa rápido. Roland Garros para mim é o mais desafiador.
Inovações na parte física
Por ser um torneio que exige demasiado dos atletas, normalmente é onde nós conseguimos ter as maiores novidades no tema da recuperação. Nesses anos todos, lá atrás, desde a famosa banheira de gelo, até recentemente, com o Djokovic trazendo a câmara hiperbárica, Roland Garros se torna vitrine para você ver as estratégias de recuperação.
Especialistas no saibro
Você tinha uma turma anos atrás que servia, servia, na quadra dura era uma maravilha, mas no saibro os caras nem competiam. A bola voltava e o cara não sabia nem o que fazer. Hoje, muitos dos grandalhões aprenderam a jogar muito bem na linha de base: John Isner, Kevin Anderson, Ivo Karlovic, Tomas Berdych, esses caras se desenvolveram para caramba no jogo de base para ter o mínimo de competição no saibro. Hoje, você vê os principais jogadores bem em qualquer superfície.
Desistência de Roger Federer
Você não tem história do Federer levando título no saibro onde ele matou todo mundo em zero e um com dois sets ou três [caso de Roland Garros]. É uma superfície em que ele tem que elaborar mais o jogo dele, isso custa muito fisicamente. O cara não tem mais nada para provar para ninguém, deve jogar quem sabe mais dois, três anos e está vislumbrando Wimbledon. Se meter na temporada de saibro correndo risco de custar super caro para o meu corpo e depois me atrapalhar no campeonato em que, aí sim, eu tenho mais chances? Deixa o Nadal ter o título dele.
Longevidade dos atletas
Acho que tem uma grande participação da preparação física. Não se pode dizer total porque tem outras coisas, como gerenciamento de carreira, biomecânica do movimento etc. Mas, seguramente, em especial o controle de carga e a prevenção de lesão fazem com que o jogador tenha essa longevidade.