Histórica, décima conquista em Roland Garros veio após Nadal se reconstruir

DANIEL E. DE CASTRO

Ao conquistar seu décimo troféu de Roland Garros, um feito absurdo, Rafael Nadal chegou ao ápice de uma trajetória de reconstrução.

Há um ano, quando teve que abandonar o Grand Slam francês por causa de uma lesão no punho antes da terceira rodada, o espanhol vivia um momento instável na carreira. Depois de deixar o torneio onde é rei, as coisas só pioraram.

No segundo semestre, ele conseguiu apenas dez vitórias, perdeu seis vezes e acumulou eliminações precoces. Em recuperação do problema físico, jogou pouco e quase saiu do top 10.

Veio 2017, e Nadal começou a dar sinais de melhora. Foram três vices antes da temporada de saibro, um deles no Aberto da Austrália, contra Roger Federer, de quem ele perderia outras duas vezes nos primeiros meses do ano.

Em seu piso predileto, o tenista voltou a fazer história. Foi o primeiro a ganhar dez vezes o mesmo torneio na era profissional, no Masters 1.000 de Monte Carlo e em Barcelona. Venceu mais um Masters, em Madri, antes de chegar a Roland Garros com amplo favoritismo para a maior “La Décima”.

Em Paris, Nadal esmagou sete adversários. Quem mais ganhou games contra ele foi o holandês Robin Haase, na segunda rodada, e não passou de oito. Para chegar à décima conquista, a primeira em três anos, ele perdeu apenas 35 games, sua melhor marca em uma campanha de título.

O espanhol estava com o forehand inspirado, e o ponto que melhor mostra isso é a passada magistral no segundo set da final diante de Stan Wawrinka.

Mas a grande novidade no jogo de Nadal foi o backhand. Assim como Federer, ele melhorou seu golpe mais fraco para voltar a dominar. Com 31 anos, após uma séria lesão e depois de já ter ganhado praticamente tudo no tênis, o espanhol foi capaz de se reinventar no circuito. Novamente, em uma trajetória similar à do suíço.

O tenista já foi chamado de baloeiro, por causa do jogo de defesa que marcou principalmente o começo de sua carreira. Muitos viraram a cara para ele por causa da força física, das regatas extravagantes, das bermudas longas e de suas conhecidas manias. Houve quem dissesse que ele não aguentaria o ritmo e se aposentaria cedo. Alguns insinuaram —e continuam insinuando— uso de doping para justificar seu desempenho.

Nadal jamais se abalou. Ao lado do tio, Toni, que deixará de treinar o pupilo no final da temporada e merecidamente participou da entrega do troféu neste domingo, ele construiu uma das mais brilhantes carreiras do tênis. Agora, com 15 Grand Slams no currículo, ultrapassou Pete Sampras e só fica atrás de Federer (18).

Se Nadal não teve rivais em Roland Garros e deixou até a decisão contra Wawrinka sem graça, há uma razão para isso. O espanhol já havia vencido a maior das batalhas, a interna, e o fez quantas vezes precisou ao longo desses anos.