Promessa do tênis brasileiro, Thiago Wild gosta de pressão e foge do ‘salto alto’

Aos 17 anos, o paranaense Thiago Wild está próximo de contrariar os conselhos maternos e tornar-se um tenista profissional. Apesar de ainda ter uma temporada em que pode jogar como juvenil, ele já ostenta bons resultados entre os adultos.

Neste mês, o adolescente conquistou seu primeiro título de um torneio da categoria future, na Turquia, e recebeu convite para a chave principal do challenger do Rio de Janeiro. Ele deve estrear nesta quarta (22), contra o chileno Nicolás Jarry, 22.

Wild, apontado como o principal tenista juvenil do país, é um dos três atletas nascidos nos anos 2000 a ter conquistado um troféu profissional. Os outros dois, ambos de 17 anos, são o canadense Felix Auger-Aliassime e o espanhol Nicola Khun, duas das maiores promessas do tênis mundial.

Nascido em Marechal Cândido Rondon, no oeste do Paraná, Wild mudou-se para o Rio de Janeiro em 2014, após se destacar em torneios sul-americanos. Ele treina na academia Tennis Route, mesmo local de nomes como Bia Haddad, Thiago Monteiro e Marcelo Demoliner e onde também trabalha seu pai, o ex-tenista Claudio Ricardo Wild.

A mãe, Gisela, é ortodontista. O jovem conta que ela o incentivava a ter uma “vida normal” e estudar para fazer faculdade, preferencialmente de medicina. Do pai, que o treinou anteriormente, ele ouvia: “escuta sua mãe e vamos ver no que dá”.

Até agora, o início promissor vem dando razão à persistência do atleta. Wild sabe que a expectativa sobre sua carreira é grande e não encara a pressão de forma negativa.

“Desde pequeno, eu sempre gostei dessa pressão que colocam em mim, sempre gostei de jogar assim. Com certeza as pessoas esperam bastante, mas não escuto muito o que as pessoas de fora da minha equipe falam”, afirma em entrevista à Folha.

Thiago Wild recebe seu primeiro troféu como profissional, em Antalya
Thiago Wild recebe seu primeiro troféu como profissional, em Antalya (Divulgação)

Para o ano que vem, Wild planeja disputar poucos torneios juvenis e acelerar a passagem para o tênis profissional, a chamada transição, que costuma ser um choque de realidade para muitos jogadores. Ele relata dois erros que já viu colegas cometerem e que não deseja repetir: “dar importância para torneio juvenil e subir no salto”.

“Profissional é completamente outro mundo. Rankings e torneios juvenis ajudam, dão um pouco de nome, de fama, mas não te dão futuro. Se a gente dá muita importância para eles, pensa que está bem e dá uma relaxada. Quando você pensa isso, você cai do salto, o salto quebra”, diz.

PACIÊNCIA

A inspiração do destro Wild, de 1,80 m, é o canhoto espanhol Rafael Nadal, mas ele vê seu estilo de jogo mais parecido com o do austríaco Dominic Thiem.

“Nunca fui muito paciente, muito calmo. Gosto mais de jogar atacando, com a minha direita e meu saque. Tenho uma boa devolução, mas gosto bastante de sacar”, afirma.

Para Arthur Rabelo, seu técnico desde 2014, a impaciência em quadra diminuiu nos últimos anos. “Ele era um menino que jogava com poucas bolas, querendo fazer as coisas rapidamente. A gente tinha que mostrar para ele que não precisava ser assim, que em alguns momentos, e só nesses, poderia fazer algumas coisas mais agressivas”, explica.

Rabelo enxerga no atleta um perfil batalhador, cujo gosto pelo treino e pelo trabalho supera o usual para a idade. O treinador também concorda que o pupilo cresce quando está sob pressão.

“Ele rende melhor quando está com a água batendo no pescoço. Quando as coisas estão muito tranquilas, ele tende a amolecer, agir com mais displicência. Quando sente que as coisas são mais difíceis, que tem que se manter mais intenso, ele consegue fazer melhor”, diz.

Após o challenger do Rio, Wild descansará por uma semana antes de iniciar a pré-temporada. Em janeiro, ele disputará o Aberto da Austrália. A meta, segundo o técnico, é que o atual número 637 do ranking da ATP encerre 2018 entre os 250 melhores tenistas do mundo.

Thiago Wild treina em Santa Croce, na Itália, onde conquistou importante título juvenil
Thiago Wild treina em Santa Croce Sull’Arno, na Itália, onde conquistou importante título juvenil (Divulgação)