Aos 85 anos, técnico que revelou Arthur Ashe ainda joga e cultua valores do tênis

O americano John Powless, 85, ainda vive em função do tênis. Ele mantém centro de treinamento no Estado de Wisconsin, viaja pelo mundo para disputar o circuito sênior e fala com orgulho sobre o esporte que pratica desde os anos 1940.

Nesta semana, Powless participa de torneio em Porto Alegre que possui a chancela da Federação Internacional de Tênis.

Se hoje o veterano é o número um do mundo na categoria 85 anos, o início da sua trajetória na modalidade teve percalços. Aos nove anos de idade, ele foi desclassificado do que seria sua primeira competição porque não tinha dinheiro para comprar camisa e tênis adequados.

As condições melhoraram nas décadas seguintes, quando ele ganhou destaque nos campeonatos nacionais e disputou edições do Aberto dos EUA.

Foi como treinador, porém, que o americano se notabilizou, após receber convite para captar jovens valores do tênis nacional que participariam da Copa Davis júnior.

Nessa equipe, ao selecionar um ainda desconhecido Arthur Ashe, o técnico deu grande empurrão para a carreira de um dos maiores nomes do tênis no país.

O tenista americano Arthur Ashe, em foto sem data

EXEMPLO

Vencedor do Aberto dos EUA (1968), do Aberto da Austrália (1970) e de Wimbledon (1975), Ashe foi pioneiro em uma série de conquistas dos jogadores negros nos EUA e no mundo. Ele se aposentou em 1980 e 13 anos mais tarde morreu em decorrência de complicações do vírus HIV.

Powless destaca o comportamento de Ashe em quadra como sua virtude máxima. Por não reclamar com o árbitro ou quebrar raquetes, o técnico afirma que ele honrava os verdadeiros valores do jogo.

“Quando você levanta sua voz, joga sua raquete [no chão] ou fala um palavrão, você insulta o jogo de tênis. Você quebra as regras de um jogo criado originalmente para damas e cavalheiros”, afirma à Folha.

Ashe dá nome à maior quadra do mundo, o Arthur Ashe Stadium, que tem capacidade para 24 mil pessoas e fica no complexo que sedia o Aberto dos EUA.

O veterano defende que os jogadores da atualidade preservem o legado do antigo pupilo e cita o comportamento de Roger Federer e Rafael Nadal como bons exemplos.

“Se você repara como eles agem em quadra, você sabe que eles não quebram uma raquete. A mente deles está voltada para eles mesmos, para o jogo”, diz.

NA ATIVA

O tenista sênior afirma que não há limite de idade para continuar em ação, desde que se respeitem algumas condições. A primeira é física: “Se você é saudável e capaz de entrar em quadra, então deve jogar até quando quiser. Você pode não conseguir correr tão bem quanto antes, não ser tão rápido. Talvez não tenha força, mas você pode jogar”.

A segunda, e que resume o pensamento de Powless, passa pelo comportamento: “Todas as pessoas devem mostrar respeito pelo jogo e por suas regras. Não insultá-lo jogando a raquete, questionando marcações e gritando. Assim você poupa energia”.