Fora da Austrália, Azarenka é mais uma mãe forçada a escolher entre carreira e família
Para falar sobre a ausência da bielorrussa Victoria Azarenka do circuito, muito mais indicada do que eu é a colega de Folha Beatriz Izumino, fã de tênis que dá ao blog a honra do seu texto.
DE SÃO PAULO
Enquanto Hollywood se parabenizava por uma cerimônia do Globo de Ouro politizada por ações e discursos contra a desigualdade e a violência de gênero, o mundo do tênis sofria mais uma derrota indireta nessa luta.
Sem jogar desde Wimbledon, a ex-número 1 do mundo Victoria Azarenka, 28, decidiu abrir mão do convite que havia recebido da organização do Aberto da Austrália deste ano, que começa no próximo domingo (14).
Duas vezes campeã do torneio, a bielorrussa não pode sair da Califórnia com o filho, Leo, de 1 ano, enquanto não resolver uma disputa pela custódia do menino com o ex-namorado e pai do garoto, Billy McKeague. Esse é o mesmo motivo pelo qual ela já deixou de jogar o Aberto dos Estados Unidos e os demais campeonatos desde então. Por isso, despencou no ranking para a 210º posição.
A determinação judicial de não poder sair do Estado, onde ela mora com a criança, também vale para o pai. Segundo especialista ouvido pelo “New York Times”, trata-se de uma medida temporária e comum em casos como esse.
O que têm a ver as mulheres de preto da premiação de domingo (7) com a situação de Azarenka? Bom, o fato de uma mulher estar sendo forçada a escolher entre seu filho e seu trabalho, por exemplo.
Good morning with my King ❤️ pic.twitter.com/b5YYfSQUJA
— victoria azarenka (@vika7) November 6, 2017
É claro que a vida de uma tenista profissional é radicalmente diferente da média das mulheres, uma vez que envolve viagens constantes por todo o planeta, o ano inteiro. E é certo também que não se advoga por separar filho de pai ou mãe, quando não há situação de risco. Mas há sinais aqui de que essa é uma disputa de poder, e não apenas pelo bem-estar do garoto.
A própria Azarenka parece ver a questão com esses olhos. Ao revelar oficialmente a situação pouco antes do Aberto dos Estados Unidos, em agosto, a tenista declarou em sua página do Facebook que “ninguém deveria ter que decidir entre um filho e a carreira, somos fortes o bastante para fazer os dois”. “Continuo otimista que nos próximos dias o pai do Leo e eu conseguiremos deixar de lado nossas diferenças e tomar atitudes na direção certa para trabalhar melhor como um time e chegar a um acordo para que nós três viajemos e para que eu possa competir, mas, mais importante é garantir que o Leo tenha a presença constante de ambos os pais.”
Como contraste, em 2011, cerca de um ano depois do nascimento de sua filha, o tenista suíço Stan Wawrinka, então ainda à sombra do compatriota Roger Federer, decidiu sair de casa e se dedicar à carreira. À época, ele teria argumentado que teria apenas mais alguns anos para se tornar um jogador top 10 e que precisaria se concentrar no tênis para alcançar esse objetivo —meta cumprida em maio de 2013.
Há muitos pais no circuito masculino, mas poucos viajam com os filhos o tempo todo. Já entre as mulheres, Kim Clijsters ganhou três Grand Slams com a filha mais velha a assistindo no box, e a austríaca Sybille Bammer jogou por dez anos depois do nascimento da filha, viajando sempre acompanhada da garota —Bammer é uma das poucas tenistas a ter um histórico positivo ante Serena Williams, com duas vitórias e nenhuma derrota.
Enquanto a disputa familiar de Azarenka não se resolve, perdem o torneio, os fãs e o esporte. Ela é mais uma de milhares de mulheres pelo mundo vítimas de um sistema que as impede de atingirem seu potencial completo pessoal e profissional —e ela tem a vantagem de ter a independência financeira e a plataforma para expressar sua frustração e suas ambições.
“Sim, eu [voltarei ao circuito] por mim, porque eu quero alcançar todo o meu potencial, mas não é só por mim mais”, ela disse ao “New York Times” em abril de 2017. “Quero que meu filho se orgulhe de mim. Quero dar a ele um bom exemplo, de que se você tem um objetivo e um sonho, você pode alcançá-los se trabalhar duro.”