Discurso anti-LGBT deixa lenda do tênis isolada onde deveria ser anfitriã

Maior vencedora do Aberto da Austrália, com 11 títulos em simples, e homenageada com seu nome na segunda quadra mais importante do torneio, Margaret Court, 75, não irá ao evento neste ano. Ela afirmou que assistirá aos jogos pela TV enquanto desfruta, ao lado da família, da sua casa de férias no verão australiano.

O clima para a maior vencedora de Grand Slam de todos os tempos (24) não seria dos melhores no palco onde já reinou. Desde o ano passado, pipocam pedidos para que seu nome seja retirado da quadra —onde cabem 7.500 pessoas— e para que os jogadores escalados para atuar nela promovam um boicote.

Os motivos? Declarações dadas ao longo de 2017, como “o tênis está cheio de lésbicas”, críticas a pessoas transgênero e ao “lobby gay nas escolas”, além da sua posição contrária à união entre pessoas do mesmo sexo, repetida várias vezes em entrevistas.

Em dezembro, o Parlamento da Austrália aprovou lei que legaliza o casamento gay no país, após 62% da população defender a medida em uma consulta popular. Pastora pentecostal e filiada ao Partido Liberal (centro-direita), a ex-tenista ameaçou deixar a legenda por ela ter apoiado o pleito.

Na última sexta (12), outra lenda do tênis e ex-rival de Court, a americana Billie Jean King, 74, afirmou ser favorável à mudança do nome da quadra. Homenageada pela organização do torneio, ela disse que não atuaria na arena se ainda estivesse em atividade.

“Eu estava bem até ela dizer recentemente muitas coisas depreciativas sobre a minha comunidade. Eu sou uma mulher homossexual, e isso realmente atingiu meu coração e minha alma”, declarou King, que teve parte da sua história de vida contada no filme “Guerra dos Sexos”.

Billie Jean King em entrevista no Aberto da Austrália (Mark Baker - 12.jan.2018/Associated Press
Billie Jean King em entrevista no Aberto da Austrália (Mark Baker – 12.jan.2018/Associated Press)

“Se você tem seu nome em qualquer coisa é importante que você seja hospitaleira, inclusiva e tenha os braços abertos para todos que cheguem”, completou King, cujo nome batiza o complexo que recebe o Aberto dos EUA. Outra multicampeã, Martina Navratilova, 61, que também é homossexual, já havia defendido alteração no nome da quadra.

Se a posição conta com o apoio de personalidades de peso do passado, faltam tenistas do presente para defendê-la. Nas entrevistas coletivas que antecederam esta edição do Aberto da Austrália, alguns dos principais atletas do circuito foram questionados sobre a polêmica. Em que pese alguns deles terem recriminado qualquer tipo de discriminação, praticamente não se ouviu crítica direta às posições de Court.

Se quem poderia levar a uma discussão mais profunda sobre o tema silencia, a ausência da australiana em Melbourne reverbera. Com seu discurso anti-LGBT, ela se isola do mundo do tênis e prefere passar longe do palco onde deveria ser a anfitriã.