Como o zagueiro Piqué virou vilão para fãs da Copa Davis
Um dia após defender o Barcelona em jogo de pré-temporada no Camp Nou, o zagueiro Gerard Piqué, 31, estava na Flórida comemorando a aprovação de mudanças radicais em um dos mais tradicionais eventos esportivos do mundo. No caso, um torneio de tênis.
O jogador de futebol espanhol é um dos donos do grupo de investimento Kosmos, que injetará US$ 3 bilhões (R$ 11,7 bilhões) na Federação Internacional de Tênis (ITF) por 25 anos de contrato com a Copa Davis, principal competição de países da modalidade.
O dinheiro que convenceu a ITF e a maioria das federações internacionais a mudar o formato da competição —medida populista semelhante às adotadas por Fifa e Uefa nos últimos anos— também originou críticas de atletas e fãs de tênis pelo mundo.
“O você acharia se um jogador de tênis, apoiado por um bilionário, quisesse mudar todo o formato da fraca competição de 63 anos da Liga dos Campeões? Sem jogos em casa e fora, com equipes convidadas, etc. É uma loucura”, escreveu o australiano John Millman, número 53 do ranking.
Quem também está por trás da Kosmos é o empresário japonês Hiroshi Mikitani, presidente da Rakuten, empresa de comércio eletrônico que patrocina o Barcelona.
Judy Murray, mãe dos tenistas Andy e Jamie e ex-capitã da equipe britânica da Fed Cup —competição feminina entre países também organizada pela ITF, mas que foi ignorada durante as negociações do torneio masculino—, postou em uma rede social a foto de um túmulo com a inscrição “Aqui jaz a Copa Davis (1900-2018)”.
Se em geral o tom no circuito é de lamento pelo fim da competição com torcidas barulhentas e batalhas de cinco sets, nas redes sociais muitos fãs de tênis seguiram a melodia fúnebre.
Várias das mensagens enviadas para as contas de Piqué são impublicáveis, mas a maioria reclama que um jogador de futebol tenha matado uma competição centenária de tênis.
“Este é o começo de um novo episódio, que garantirá o legítimo lugar que a Copa Davis deve ter como competição de nações. No pessoal e no profissional, hoje é um dos dias mais felizes da minha vida”, disse o espanhol, campeão da Copa do Mundo (2010) e quatro vezes da Liga dos Campeões.
Se o sucesso ou o fracasso da nova Copa Davis nos próximos anos depende de vários fatores, uma coisa já é certa. Piqué, muitas vezes vaiado em jogos da seleção espanhola em razão do seu apoio à independência catalã, acaba de ganhar novos detratores.
Entenda o que muda na nova Copa Davis
Datas – O calendário previa quatro semanas para as fases principais do torneio. Agora serão duas. Em fevereiro, será disputada a fase eliminatória, em vários países. A fase final, em novembro, terá sede única
Formato – A semana final terá uma fase de grupos, com as 18 finalistas divididas em seis chaves. Em cada confronto, serão três jogos em melhor de três sets, em vez de cinco jogos em melhor de cinco sets
Convite – Dois países serão convidados para a fase final da competição. Os critérios para a escolha desses participantes não foram divulgados
Dinheiro – O Kosmos investirá US$ 3 bilhões (R$ 11,7 bilhões) no evento por prazo de 25 anos. Segundo a ITF, a verba servirá para aumentar a premiação e expandir o esporte em mais países