Campeão juvenil, Wild afirma que amadureceu cedo para tênis profissional

O brasileiro Thiago Seyboth Wild, 18, campeão juvenil do Aberto dos EUA no domingo (9), considera estar bem preparado para um momento definidor na carreira dos tenistas: a transição para o circuito profissional.

A confiança, porém, possui pouca relação com o fato de o paranaense de Marechal Cândido Rondon ter sido o segundo atleta do país a conquistar um Grand Slam como juvenil.

Para Wild, o troféu obtido em Nova York tem um papel importante na sua trajetória e representa a realização de um sonho, mas não definirá um caminho mais fácil ou difícil na elite do tênis mundial.

“A cabeça de um jogador juvenil não tem que estar preparada para querer ganhar todos os torneios. Tem que estar preparada para lidar bem com momentos bons e ruins”, diz em entrevista à Folha.

Ele afirma que a maturidade necessária no período de transição foi adquirida ainda no juvenil. “Acho que eu consegui boa parte dela, até mais cedo do que alguns jogadores”.

Nos últimos anos, há exemplos bem-sucedidos e malsucedidos de tenistas que saíram do último estágio antes do profissional como promessas.

O alemão Alexander Zverev, campeão do Aberto da Austrália juvenil em 2014, está no primeiro grupo. Ele já ocupou o posto de terceiro melhor do mundo e, aos 21 anos, tem três troféus de torneios Masters 1.000.

Mas há casos também como o do primeiro brasileiro a triunfar em um Slam juvenil, o alagoano Tiago Fernandes. Vencedor na Austrália em 2010, ele abandonou o tênis quatro anos depois, após resultados frustrantes no início da carreira profissional.

Com bom saque e estilo agressivo, Wild acredita que seu jogo está em bom nível para a próxima etapa da carreira.

“Não tenho muito mais golpes ou potência para acrescentar, é mais afinar, deixar os detalhes cada vez mais cristalinos. A principal diferença é a intensidade que o jogo [profissional] pede”, diz.

Este é seu último ano como juvenil, mas ele já compete com frequência em torneios profissionais e conquistou dois títulos de nível future, o mais baixo entre os adultos.

Seu jogo mais relevante na elite até o momento foi em fevereiro, quando recebeu convite e disputou o Aberto do Brasil, torneio de nível ATP. Na ocasião, ele sentiu a diferença de preparo físico e perdeu na primeira rodada para o veterano argentino Carlos Berlocq, 35.

Arthur Rabelo, técnico de Wild na academia Tennis Route, no Rio de Janeiro, diz que o troféu nos EUA deve trazer boas oportunidades para o atleta, como mais convites para torneios e apoio financeiro.

Sobre o jogo do paranaense, ele afirma que uma lacuna a ser trabalhada é a forma de definição dos pontos. Como Wild cria muitos espaços em quadra com seus golpes, poderia subir mais à rede e usar voleios. “Nem sempre depender da bola salvadora, da pancada incrível”, explica.

Além da agressividade em quadra, chama a atenção de quem acompanha os jogos do tenista a sua atitude. Ele costuma vibrar de forma efusiva e faz questão de se mostrar sempre confiante, como o ídolo Rafael Nadal.

A possibilidade de por esse motivo ser considerado arrogante pelo público não parece preocupá-lo neste momento.

“Algumas pessoas podem olhar para mim e pensar que eu faço isso porque quero me mostrar melhor, mas outras vão olhar da maneira que eu quero que elas olhem. Eu me sinto confiante, não quero diminuir outras pessoas para parecer maior”, afirma.

O comportamento em quadra também faz parte das conversas entre técnico e jogador. “O sujeito tem que ter alguma autoconfiança. Se hesitar, muito dificilmente vai acertar com a intensidade que precisa. Só não pode viajar na maionese achando que é mais do que já é. Vamos ficar com os pés no chão”, diz Rabelo.